imagem daqui via Google
Ainda agora estive a abrir uma daquelas embalagens de presunto fatiado. Conscienciosamente tinha olhado para o código do país de origem – Espanha. Não tinha escolha e, ainda por cima, estava dado como tendo dez meses de cura!
Num canto da embalagem, lá estava a flecha torcida a indicar que era por ali que se devia começar a operação. Era uma embalagem sob pressão. Mais do que pressão tinha o plástico envolvente, estava vulcanizado. E a lingueta de tão reduzida superfície que não dava para segurar com os dedos. E era espanhol, as embalagens nacionais ainda são mais reticentes!
Desisti da fase manual! Era necessário passar à fase com ferramentas. Foi aí que me lembrei do “Óscar da Embalagem” – concurso nacional que conhecera em França nos anos setenta.
Não tínhamos televisão mas o rádio dava as notícias e a música ouvia-se num gira-discos (não era um Teppaz), mais tarde num gravador a cassettes comprado ali no Boulevard Sebastopol, em frente à FNAC. E na rádio passava um “spot publicitário” da Herta, penso eu, em que várias vezes por dia nos relembrava que o fiambre embalado tinha ganho o célebre “Óscar da Embalagem”. E eu sorria, quase sempre, achando idiota como argumento de venda. Afinal era tão simples abrir qualquer embalagem de plástico com os dedos, não era necessário comprar Herta.
Hoje, pensando no assunto, já não sorrio. Pergunto: falta de tecnologia? Falta de imaginação? Ou, simplesmente, ainda não conhecemos o que já existe? Estes pequenos incidentes do quotidiano dão que pensar. Estaremos assim tão longe da Europa? Hoje em dia, já não podemos argumentar que os Pirenéus são uma fronteira. Os Boeings e os Airbus até passam longe.
Hoje, aqui em Cedofeita, século XXI. Lamento não termos um Jerónimo ou um Belmiro ou um António da Embalagem!
Depois da faca bicuda, utilizei a tesoura de cozinha. Mesmo assim a folha superior da embalagem ficou rasgada em vários pedaços. Quarenta anos depois. Quase me rio da minha ingenuidade no que dizia respeito à ergonomia na vida caseira.
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