A Albertina morava no Bonfim, tinha passado as férias com uma amiga numa terreola perdida da Beira Interior. A amiga tinha uma página na internet onde mostrava as fotografias de texturas e outras.
O Albertino um dia comentou uma fotografia da Albertina, talvez pensando encontrar o alter-ego do nome que o padrinho lhe tinha obrigado a usar a vida inteira.
A Albertina, ao recebeu o comentário, foi ver as fotos do Albertino. Achou graça ao nome. Havia um retrarto dele, de camisa amarela, no meio de muitas árvores.
O Albertino e a Albertina trocaram comentários, infeccionaram a publicação de fotografias. Começaram a escrever mails a torto e a direito.
A Albertina gostava das fotografias do Albertino. O Albertino gostava das fotografias da Albertina. Mas nem uma, nem o outro, se manifestaram para o exterior. Eram comentários que apareciam na internet, naquele mundo virtual em que tanto o real não aparece, não existe.
Um dia a Albertina publicou uma fotografia da rua da Sovela. O Albertino gostou. Mas o Albertino não sabia onde morava a Albertina e a Albertina ignorava onde dormia o Albertino.
O Albertino escreveu um mail à Albertina a dizer-lhe que a queria encontrar. A Albertina também já desejava encontrar o Albertino mas tinha uma certa timidez. A Albertina ignorava tudo do Albertino. O Albertino também ignorava quase tudo da Albertina.
O Albertino marcou um encontro naquele final de Verão no café Aviz numa tarde de sábado. Dois fotógrafos da cidade mereciam encontrar-se para um passeio fotográfico. A Albertina aceitou, mas receou que o Albertino fosse um sátiro, sabe-se lá, há de tudo no virtualismo da net. Não quis estar a incomodar a irmã que tinha que se ocupar da filha.
Sexta-feira à noite, telefonou à Ana, com quem tinha passado as férias na Beira. Contou-lhe que tinha marcado um encontro com um desconhecido no Aviz. A Ana riu-se. “Vê lá, menina, são coisas que só acontecem a ti”. A Ana era mesmo muito comedida nos seus gestos e actos. E a Ana aceitou ir servir de guarda-costas. Combinaram tudo. Uma de um lado do café, junto ao balcão, a outra ao fundo junto do painel de azulejos.
À hora certa, mesmo um pouco antes, Albertina sentou-se, pediu um café cheio, pousou o Nikon D 200 na mesa e ficou à espera. Poucos minutos depois a Ana instalou-se numa mesa perto do balcão, abriu uma revista e esperou que lhe chegasse um chá preto num bule metálico – não havia chá verde!
Para o espanto de Albertina entrou um tipo despenteado, com um casaco com bolsos atafulhados. Olha para um lado, para o lado do balcão. Dirige-se para a mesa da Ana. Beijos. A Ana fica encarnada. Espanto da Albertina. O tipo pega na mão da Ana. A Ana nunca tinha dito á Albertina que tinha assim um amigo tão intímo. Nem mesmo durante os 15 dias de férias.
A Albertina ficou à espera. Não tinha o número de telemóvel do Albertino. Bem olhava para a montra. Havia tipos que entravam mas nenhum tinha uma camisa amarela nem um par de jeans como na fotografia que já tinha mais de 10 anos.
A Albertina pagou a despesa, saiu do Aviz. O tipo continuava com uma mão na mão da Ana. Dez minutos depois ligou para a Ana. Ela não atendeu.
A Albertina regressou a casa a pé, não passou pela rua da Sovela. Nem reparou que havia prédios fantasmas na baixa da cidade.
À noite falou-lhe. A Ana pediu-lhe desculpa. Tinha aparecido um velho amigo. Risos. Sabes? Também põe fotografias na net. É o TóZé! Tinham andado juntos no Alexandre. Era um bom amigo!
Teve um mail do Albertino. Pedia desculpa. Gripe da filha mais velha. Médico. Não tinha podido ir ao Aviz. Ficava para a semana?
Ainda há fotografias do Albertino no www.portugalimagens.net e no www.flickr.com , mas as páginas não foram actualizadas.
No ano seguinte a Ana não passou as férias com a Albertina. O Albertino deixou de responder aos mails da Albertina.
O TóZé nunca disse à Ana que também publicava fotografias como “Albertino” no flickr!
1 comentário:
Mas onde é que já ouvi qq coisa parecida com isto? Atrevido(a)!
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