11 agosto 2010

O SAXOFONE



Um dia fui abrir a porta, à minha frente estava um tipo alto que me disse: “Sou o Luís. Sou um amigo do Bastos.”

À noite arrumámos as cadeiras para um lado e o Luís dormir lá várias noites no divan aberto. Era um tipo muito fino, um dia a beber chá por aquelas chávenas castanhas de “Duralex” disse-me que o chá tinha outro gosto em chávenas de porcelana branca! Ali só tinha a escolha entre as chávenas castanhas ou os copos transparentes em “Sedlex”.

Regularmente o Luís Reis passava por Paris. Ou na Primavera ou no Outono. Era um amigo. Ficava no divan e participava na vida da casa. Só ou acompanhado, já estávamos habituados a que ele não anunciasse a sua chegada. O Luís ia a Paris fazer compras, para ele e para os amigos. Por vezes, quando passávamos mais tempo no Porto lá lhe telefonava e íamos passar umas horas juntos.

Já tínhamos saído de Rivoli e morávamos ali bem perto do Delta. Num Setembro tinha dado boleia ao meu primo Rui e ao Tó. Tinham casa para acamparem, um ou outro jantar e só tinham que se desenrascarem para apanharem em Austerlitz o comboio de regresso a Campanhã.

E o Luís bate à porta e diz que vem passar uns dias a Paris. Para além dos discos da FNAC daquela vez o Luís foi à “rue de la Fontaine au Roi” comprar um saxofone soprano.

Durante um jantar o Luís lá nos explicou que andava a aprender a tocar o dito instrumento e que tinha aproveitado a ocasião para se abastecer na fábrica. Mas o Luís tinha um problema. Não queria levar o estojo na bagagem pois temia problemas na alfândega. O lindo estojo negro com um “Selmer” grafado dava realmente nas vistas. A solução passava pelos dois amigos que deviam voltar ao Porto de comboio.

Assim foi, o Reis tirou o instrumento de música do estojo em couro, limpou-o, guardou-o no paninho de algodão, tudo com muito método e preparou o estojo para o entregar aos dois jovens.

Trocaram números de telefone e marcaram encontro algures no Porto.

Só meses mais tarde é que o meu primo me contou as angústias da viagem. 


Estava tudo bem, tinham comido as sandes parisienses, tinham passeado no comboio de lés-a-lés, etc. Só quando estavam a alguns minutos da fronteira é que resolveram ir esconder um pouco melhor os eventuais objectos menos lícitos. Aí abrem o lindo estojo Selmer! Estava repleto de pacotinhos. Cheiraram, pensaram que era droga. Tornaram a cheirar. Era chá! Felizmente que a Guarda Fiscal não lhes abriu as bagagens! 

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