08 agosto 2010

MÉLI-MÉLO AUX EXPOS I


Depois da minha chegada a Paris, depois de resolver os problemas da legalização da estadia, a principal preocupação era encontrar trabalho. Sem trabalho não havia a possibilidade de me darem a famosa “Carte de Séjour”. Na altura não havia aquele velho problema de: “sem trabalho não há título de estadia, sem título de estadia não há trabalho.

O meu francês era um francês de trazer por casa apesar de um 12 no último exame que já estava longe. Ler, vá que não vá – os dicionários serviam para alguma coisa.

Indaguei junto dos amigos, nada pelo momento, desde que saiba de alguma coisa.
Outros aconselhavam ir bater à porta das fábricas lá para as zonas industriais. Algumas tinham um letreiro à porta: “Embauche”. Mas, francamente eu não me via a fabricar parafusos oito horas por dia.

Um dia a Jo disse-me que o marido de uma colega de chez Roucaire precisava de mão de obra! O Melidonian era dono de uma empresa de aluguer de móveis e de tempos a tempos precisava de mais gente.

Lá fui. O local era em Malakoff. Uma loja a abarrotar de mobiliário para aluguer. O patrão sempre engravatado tinha a seu cargo a parte comercial, mas quando era preciso algo de urgente deitava mãos à obra e fazia de tudo um pouco.

Nos primeiros tempos era “travail au noir”. Trabalhava tantas horas por dia e era pago no fim do dia. As tantas horas por dia eram sempre em função do trabalho que havia para fazer. Montar uma exposição era começar bem cedo de manhã e acabar quando todos os móveis estivessem instalados nos stands. Desmontar uma exposição era começar no fim da tarde e acabar quando os móveis estivessem todos no armazém. Acabado o trabalho, metia o dinheiro ao bolso e ficava a saber quando tinha de novo de me apresentar ao trabalho.

Na altura os salões e as exposições tinham lugar, quase todos, ali na “Porte de Versailles”. Ficava tudo à mão. O Bonnivard arranjava alguns amigos, o cunhado e amigos do cunhado. Uma vez ou outra eu convidei o Samuel e o Raul. Era um correr pelas alcatifas, entregar móveis aui e ali com uma planta dos stands. Depois o patrão passava para ver se estava tudo.

O ritmo era puxado mas eu era jovem. As mesas e cadeiras Knoll, os banquinhos em plástico, os frigoríficos, os armários iam mobilando os stands do “prêt-à-porter”, das grandes empresas electrónicas ou mesmo da “Foire de Paris”.

Pausa ao meio-dia. Almoço pago pelo Mélidonian. Da parte da tarde a montagem continuava. Depois, Metro – casa.

Se fosse a desmontagem lá estávamos nós, eu em segunda linha, o Bonnivard em primeira, e às vezes outros! À espera que os clientes acabassem de beber o último champagne ou que levantassem o material dos armários e recuperassem as brochuras. As minhas botas da tropa percorriam quilómetros durante aquelas horas. Sobretudo a preocupação de  trazer todos os móveis para o armazém. O patrão era simpático, sempre sorridente. Quando o trabalho acabava fora de horas pagava o jantar, algumas vezes, no “Charly de Bab El Oued” que ficava perto, ali na “rue de la Convention” – penso eu.

A Melexp desenvolvia-se como empresa. O trabalho não faltava mas aproximavam-se as férias. E quem diz férias diz salões e exposições parados, parisienses rumo ao Sul e rumo ao Sol.

Um dia, Jean Mélidonian falou-me ao lado daquela confusão toda, talvez fosse num daqueles dias em que tarde me levou até perto de casa no seu Autobianchi Primula. E disse-me que regularizava a minha situação como empregado. Sim, ele empregava-me. E eu teria direito a uma “carte de séjour” e à respectiva “carte de travail”. Era só que passassem as férias, dois meses e tal. Era só esperar que a G. viesse passar as suas férias a Paris.

(continua) 

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