Aqui em Portugal já perdemos um certo número de rituais populares e báquicos, sobretudo em meio urbano. Mesmo tendo vivido quatro anos no Douro, não me lembro de alguém me ter convidado a ir a uma adega no dia de S. Martinho para provar o vinho novo.
Os franceses ao longo do tempo conservaram este costume. Sem ser fanático do 15 de Novembro, o Beaujolais Nouveau é o que eu chamo um vinho de sede. Obrigatoriamente comprava uma garrafa desde que encontrava à venda quer no “Nicolas” mais à mão, quer no supermercado.
Em Paris era ver no dia 15 – e mais tarde na terceira quinta-feira - de Novembro à saída dos escritórios os grupos de pessoas com um copo daquele tinto levezinho na mão.
A minha companheira ainda não conhecia o Beaujolais Nouveau e na terceira quarta-feira de Novembro de 2008 quis fazer-me a surpresa, telefonou para dois hipermercados. Surpresa teve ela. Não a souberam informar se teriam à venda no dia seguinte aquele subtil néctar com sabores a banana e a frutos vermelhos. Dias depois lá encontramos umas garrafas à venda no Continente.
Isto tudo para fazer uma introdução à importância que pode ter este vinho.
Para mim o Beaujolais é Novembro, sempre o próximo Novembro. E francamente já não me lembrava de histórias com este vinho.
E não é que, ao fim de muitos anos, reencontro o Alexandre e a esposa. E a ela a dizer: Sabes? O Alexandre fala muito de ti e da história do Beaujolais!
(Eu sei que muita gente, hoje, me vem dizer que os desencaminhei, que fui eu que os levei a descobrir isto ou aquilo... – um dia destes aparece o M. Neto a dizer que eu o desencaminhei uma noite para ir beber uma Gueuze no Général La Fayette!)
Eu sabia que tinha desencaminhado o Alexandre, mas não me lembrava do Beaujolais.
A história que o traumatizou é muito simples. Quem a relembrou foi a O. Fomos almoçar certo dia por razões ligadas à associação a que estávamos ligados. Não sei quem deve ter olhado para os espelhos da parede e para o cartaz a dizer: “Le Beaujolais Nouveau Est Arrivé!” e fez a proposta de se regar a refeição com ele. Claro está que eu também estive de acordo. No fim da refeição é apresentada a conta e eu disse aos companheiros da direcção da associação que estava de acordo em que estava em funções, a associação ia pagar a conta, mas que o Beaujolais ficava por nossa conta! – Na altura tinha a função de tesoureiro.
O Alexandre, que estava ao lado, confirmou: E tu também bebeste, e tu também bebeste!
Sem comentários:
Enviar um comentário