(não morre o peixe!)
Trabalhei alguns meses com o Loïc, como tinhamos horários desencontrados pouco tempo tínhamos para conviver, para falarmos de outra coisa.
O Loïc era mais jovem do que eu, loiro e bretão, calado mas profissional competente.
Quando cheguei a Poissy, tivemos uma reunião de equipa logo de manhã, como havia um prolongamento por mais umas horas, almoçamos juntos. Fomos a um café ali perto do mercado, também não muito longe da “Mairie”. Sandes para toda a gente!
Ele hesita um pouco e pede uma sanduíche de “camembert”. Notei a sua hesitação e o facto de não querer uma de “jambon – gruyère” que alguém tinha aconselhado por serem a especialidade da casa.
Os meses foram passando, o trabalho fazia-se sempre sem grandes tumultos. Eu era um dos primeiros a chegar. Por vezes tínhamos reuniões rápidas de manhã e evitávamos que eles se prolongassem depois de almoço.
Mas houve um dia que tivemos que ir “almoçar” mais sandes ao meio-dia. Eu variava entre o “jambon de pays” e o “sec-beurre”. O Loïo hesitou mais uma vez, devia estar desconfiado com o atum. Lá pede de novo uma sandes de queijo.
Como estávamos só os dois, e como eu já não tinha papas na língua, perguntei-lhe se ele era vegetariano.
O Loïc levanta para mim aqueles olhos entre o cinzento e o azul e responde-me que não.
O Loïc, que era de poucas palavras mas sincero, diz-me que a copine dele, aquela que partilha a sua vida e a sua cama é muçulmana. E que ele, de origens cristãs e bretãs, quer chegar a casa, à noite, e beijá-la na boca. E não quer que ela peque, na religião dela, por porco ou restos de porco que ainda tenham ficado na boca dele.
O Loïc, descendente de bretões que tinham lançado as amarras entre Les Mureaux e Mantes-La-Jolie, praticava as trocas interculturais no quotidiano e mesmo domesticamente.
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