07 junho 2010

Loïc



Ou Pela boca...

(não morre o peixe!)

Trabalhei alguns meses com o Loïc, como tinhamos horários desencontrados pouco tempo tínhamos para conviver, para falarmos de outra coisa.

O Loïc era mais jovem do que eu, loiro e bretão, calado mas profissional competente.

Quando cheguei a Poissy, tivemos uma reunião de equipa logo de manhã, como havia um prolongamento por mais umas horas, almoçamos juntos.  Fomos a um café ali perto do mercado, também não muito longe da “Mairie”. Sandes para toda a gente!

Ele hesita um pouco e pede uma sanduíche  de “camembert”.  Notei a sua hesitação e o facto de não querer uma de “jambon – gruyère” que alguém tinha aconselhado por serem a especialidade da casa.

Os meses foram passando, o trabalho fazia-se sempre sem grandes tumultos. Eu era um dos primeiros a chegar. Por vezes tínhamos reuniões rápidas de manhã e evitávamos que eles se prolongassem depois de almoço.

Mas houve um dia que tivemos que ir “almoçar” mais sandes ao meio-dia. Eu variava entre o “jambon de pays” e o “sec-beurre”.  O Loïo hesitou mais uma vez, devia estar desconfiado com o atum. Lá pede de novo uma sandes de queijo.

Como estávamos só os dois, e como eu já não tinha papas na língua, perguntei-lhe se ele era vegetariano.

O Loïc levanta para mim aqueles olhos entre o cinzento e o azul e responde-me que não.

O Loïc, que era de poucas palavras mas sincero, diz-me que a copine dele, aquela que partilha a sua vida e a sua cama é muçulmana. E que ele, de origens cristãs e bretãs, quer chegar a casa, à noite, e beijá-la na boca. E não quer que ela peque, na religião dela, por porco ou restos de porco que ainda tenham ficado na boca dele.

O Loïc, descendente de bretões que tinham lançado as amarras entre Les Mureaux e Mantes-La-Jolie, praticava as trocas interculturais no quotidiano e mesmo domesticamente.

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