Ou como não era fácil a vida nos meados dos anos 60 no Porto.
Comecei a ler “Pessoas, animais e outros que tais” (ISBN 989-625-085-5). Lá por volta da página quarenta, o Pedro faz uma alusão ao Jorge Lima Barreto quando da sua passagem na cidade do Porto.
Para quem não viveu nesses tempos, para quem nunca se apercebeu como era difícil viver num Porto burguês e fechado como o dessa altura, não sabe que o Jorge Lima Barreto foi o primeiro homem no Porto que andava na cidade de calças vermelhas. E posso vos garantir que tal atitude não era nada fácil. Os basbaques ficavam mesmo a olhar para as calças nas ruas da Baixa do Porto.
Existia na mente das pessoas um certo número de preconceitos difíceis de abater.
O ensino misto tinha deixado de existir nos liceus e nos colégios. Lembro-me de a Sala de Estudo Lúmen ter sido encerrada durante semanas ou meses porque os rapazes e as raparigas tinham aulas do antigo sétimo ano, juntos.
No espartilho social e ideológico era bem apertado. Espantem-se gentes que só têm memória do século XXI! Há quarenta e cinco anos atrás, as raparigas não podiam andar de calças compridas nos estabelecimentos do ensino oficial. Muitas vezes, no inverno, vestiam uma saia por cima das calças. As meninas do Liceu Carolina de Michaellis andavam fardadas com uma bata azul. Lá também era proibido o uso de calças às alunas.
Na sua autobiografia “ Foi Assim” ( ISBN 978-989-622-113) a Zita Seabra (a), que ainda tinha os cabelos longos, conta-nos que a sua primeira luta política foi o movimento que se gerou naquele liceu para que as alunas pudessem assistia às aulas com calças compridas.
A vida não era um mar de rosas, com calças ou sem calças naqueles meados dos anos sessenta do século XX. Eu sei que alguns até saõ capazes de dizer que naquele tempo a juventude podia e sabia divertir-se!
(a) - Na altura era dirigente da Comissão Pró Associação dos Estudantes do Ensino Liceal do Porto.
(a) - Na altura era dirigente da Comissão Pró Associação dos Estudantes do Ensino Liceal do Porto.
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