09 julho 2010

Casino




Naquele ano a Coordenação de Ensino tinha promovido um estágio no CREPS de Vichy, isto é, mais precisamente em Bellerive, ali mesmo do outro lado do rio, mesmo ao lado do hipódromo.

Foi o meu primeiro estágio fora de Paris e foi a primeira vez que puz os pés na Auvergne.

Como o estágio foi nos princípios de Julho havia já alguns colegas, sobretudo do Norte, já com as malas aviadas dentro dos veículos. O quadro exterior era bastante agradável, o ambiente interior nem por isso.

A equipa de formadores franceses teve alguma dificuldade em lidar com aquele grupo multifacetado. Encontrei algumas caras conhecidas e até mesmo amigos de longa data. Também havia algumas anedotas no meio daquilo tudo – uma colega recusava-se a tirar os sapatos para entrar no ginásio, outro coleccionava garrafas de vinho cheias à hora das refeições...

O tempo era pouco para visitar Vichy. Passei por Vichy e não fiquei a conhecer Vichy! Nem cheguei a provar a miraculosa água.

Como estava programada uma saída nocturna, houve logo um grupo de colegas que propôs como continuação uma ida à discoteca do Casino. Como eu nunca tinha entrado num Casino para jogar, integrei-me logo ao grupo das dançarinas.

Mas voilà! Havia um Hic! Eu só tinha dois pares de jeans como calças e no casino não eram permitidas! Dei a volta pelos colegas, comecei pelos do meu tamanho mas a coisa foi difícil. Por fim, o Pedro Órfão lá me emprestou umas calças em terylene. Puxei-as o mais para baixo de maneira a não ter o aspecto de ir regar a horta.

Éramos quatro ou cinco que entramos na sala de jogos. Os outros não quiseram gastar os cinquenta francos de direito a jogar ou não lhes interessava o espectáculo.   

Encontrado um cantinho na mesa da roleta lá começámos a distribuir as parcas fichas (de cinco francos?) sobre o tapete verde. Ora perde, ora ganha, as fichas iam desaparecendo – já não sei quantas tinha comprado – talvez cinquenta francos. Lá as ia distribuindo pelos números que mais perto estavam do meu braço. Chegou uma onda de sorte, o montinho à minha frente estava quase a chegar ao volume inicial. E eu a sentir-me ao estreito nas calças.

Eis que chega um tipo ainda jovem com ar que conhecia todos os empregado. Do pescoço aos sapatos de blue-jean! Mas devia ser de marca! Olha! Deixaram-no entrar. Observa um pouco a paisagem. Calmamente pousa um rectângulo de 500 francos numa das cores. Já não sei se o preto se o vermelho. Les jeux sont faits, rien ne va plus!
Saiu a cor contrária! O tipo afastou-se em direcção ao bar. Como nada se tivesse passado.

A minha onda de sorte continuava! Mais uma, mais duas. Cheguei ao capital investido. Já tinha no pensamento o lugar exacto onde ia colocar as próximas duas fichas quando a Angela histericamente começa a impedir-me de jogar. Já tens o teu dinheiro, vem embora! Até parecia que o dinheiro era dela! Perdi o ritmo. Não joguei daquela vez. Tinha vontade de a mandar à merda. Perdi a vez. Continuei a jogar. Perdi os cinquenta francos!

A Júlia com aquele seu sorriso e a sua calma toda levou-me até ao bar para eu descomprimir. Acabámos todos na discoteca do Casino. Depois uma alma caridosa  deu-me boleia até ao Centro de Estágios.

Anos mais tarde, nos fins dos anos 90, encontrei em S. Cibrão o Eugénio!  Parámos e falámos. Depois, várias vezes ainda o encontrei no Modelo de Vila Real. Veio à memória a canção do boieiro. O Eugénio estava na mesma. Para além da escola lá ia cultivando como um bom duriense.

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