21 julho 2010

Natal 1972




Os últimos natais não tinham sido nada agradáveis. O de 1969, um Natal de despedida, uns dias depois Mafra me abriria os braços e os portões. O de 70, aquele que passei em Santa Margarida em companhia da Companhia. Entre o refeitório e a messe dos oficiais. O seguinte tinha sido o meu primeiro Natal  em Paris, frio apesar da presença da Geta.


No Natal de 72 já morava com a C. H. Ela tinha ido passar o Natal com a família e eu não tinha sido convidado. 


O Abrantes do Carmo naqueles dias de mais ou menos Natal tinha ficado lá em casa.  Já não me lembro como foi a consoada. Já não me lembro em que dia é que foi.

Não havia televisor. Eu já estava na cama do quarto a ler. O Abrantes estava a dormir no sofá da sala.  Já era tarde na noite e de repente alguém bate à porta! O Abrantes assarapantado. Eu, espantado. Levanto-me. Abro a porta. 


Dois tipos desconhecidos. Um mais ou menos da minha idade. Um bem vestido. Um em mangas de polo.  Perguntam pelo Abrantes.do género: “ O Abrantes está aqui?” Ele calça os sapatos e põe os óculos. Chega-se à porta. Inquieto? Lança-se nos braços do mais velhote.


Onde está a minha netinha? Onde está ela? Pergunta o Félix.  O Félix ainda não conhecia a Angela.


Alguns minutos ali em casa. O tempo necessário para enfiar roupa quente e o Figueiredo contar que conhecia o número da porta, que tinha perguntado à Piedade onde era, que tinham subido os quatro andares, que tinha batido à porta. Que nos tinha encontrado.


Dessa vez eu tinha um Simca 1100 do Chevalier. Lá fui deixar o Figueiredo a Montholon e depois seguimos depressa até Paris XV. 


Era um daqueles grandes prédios com alguns tijolos na fachada. Saímos do carro e o Abrantes entrou num longo corredor, o corredor das “chambres de bonne”.  Quase no fim, bateu a uma porta à esquerda. Chamou pelo nome da sogra. Nós, os outros dois, calados, eu, com uma coisa assim na garganta. O Félix caiu nos braços da mulher. A netinha estava a dormir. 


Deixámos o Félix e regressámos os dois para a rua de Rivoli. O reencontro quase seria perfeito e o Natal feliz se a mulher do Abrantes não estivesse em Caxias.

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