Durante 21 anos, no Verão ía à praia. E a praia era a praia da Aguda. Tenho a impressão que fui todos os anos, talvez não todos, talvez não aquele em que fui para a praia “Emília Barbosa” (1956?)
Nos últimos anos, acabados os exames, lá ia eu bater à porta dos meus tios que alugavam anualmente uma casinha do senhor Manuel da Fonte ali na rua Joaquim Pereira de Sousa Grijó. Depois, ficava lá em casa deles até eles regressarem ao Porto. Mas falarei da praia da Aguda noutra ocasião.
Calado, solitário durante aqueles meses eu ia tendo grupos diferentes segundo os meses de férias, eram raros os da minha idade que lá ficavam tanto tempo seguido. Em Setembro, para a casa da frente ia morar um casal com um dos filhos que era mais ou menos da minha idade. A “nossa” praia era a praia Sul – a mais recatada e a menos chique. Foi assim que conheci o Ernesto.
Durante uns anos (dois ou três) mantivemos um ritual nocturno. Os pais do Ernesto, por uma noite, cediam-nos a sala de jantar. Com o Osvaldo e o Fernando fazíamos a partir das tantas uma longa partida de King. Na verdade já não me lembro como aprendi a jogar. Jogava-se a tostão o ponto e a partida durava imensas horas.
Éramos quatro jovens entretidos numa noite de Setembro. Éramos quatro jovens entretidos numa terriola adormecida onde não havia cafés e as distracções eram poucas. Falava-se baixo e não havia televisor nem música – os pais dormiam. Também não se fumava.
No fim da partida, íamos ver o nevoeiro no largo dos bombeiros. Calmamente percorríamos as poucas ruas, normalmente com a frescura e o silêncio ambiente. Lá para as tantas, depois de termos matado o tempo de espera, batíamos à porta da padaria, da única padaria que fazia pão nas redondezas.
Regressávamos a casa dos pais do Ernesto (cá para mim, eram uns tipos simples mas muito porreiros e avançados para aquele tempo). A mãe tinha deixado café fresco e manteiga. Ceávamos calmamente e depois começa o “leva a casa do outro” até que ...
Foi há mais de quarenta anos, não havia telemóveis e durante o ano perdíamo-nos na cidade, os nossos caminhos dificilmente se cruzavam. Do Ernesto mais nada soube. O Osvaldo quase me cruzei com ele no ano seguinte na “Tomada da Bastilha”, um dia reconheci-o num tele-jornal. O Fernando também ainda deve estar vivo também aqui há tempos o ouvi falar da sua associação profissional na televisão.
Eu ainda existo, mas já não me lembro das regras do King! Durante alguns anos ainda tentei arranjar parceiros para uma partida mas não consegui.
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